A tarefa de organizar uma colecção da Seara Nova - que me sugeriu 4 posts recentes - levou-me a comentar com um amigo quão frustrado terá sido afinal o esforço de tantos que durante décadas mantiveram essa revista! E o que isso sugere sobre actuais projectos de intervenção cultural...
Com efeito, desde a I República (em Portugal) e passando pelo Estado Novo, dezenas de autores com obra nas humanidades, nas ciências sociais, e nas ciências naturais mais a matemática, tendo ainda o cuidado de estabelecer transdisciplinaridades e de destacar interdisciplinaridades, participaram naquela revista, durante muitos anos publicada semanalmente, com o intuito não só de informar, mas ainda de convocar e treinar a leitura crítica das elites portuguesas - "Elite" significa aí os que tinham acesso à informação e à respectiva reflexão, e que também por isso tendiam a ocupar os cargos públicos de maior responsabilidade. Além dessa participação, todos eles mantinham a sua produção e o seu magistério em academias, institutos, outras publicações, etc. Posso referir, noutro exemplo além daqueles 4, o médico e investigador Abel Salazar, expulso do ensino em 1935 pela sua oposição ao regime autoritário, e que a 15/04/1937 correspondeu ao convite de António Sérgio para que colaborasse com a S.N. com o artigo, não de medicina mas de filosofia, "Pensamento lógico, pré-lógico, pseudo-lógico e psicológico. Pensamento emotivo, pensamento lógico e empiro-lógico" (Ano XVII, Nº 505: 3-7), numa contribuição para a divulgação em Portugal das obras do Círculo de Viena! (Tenho que colocar um "!" pois creio que só talvez há uma dúzia e meia de anos essa linha de pensamento se terá começado a enraizar neste país).
Mas esta frustração do esforço de Abel Salazar bem poderá representar a de todos os seareiros. Pois o que, objectivamente, eles conseguiram foi formar a geração que, tendo recebido o poder político (e económico-social) daquele grupo de oficiais de carreira de patente intermédia que em 1974 se recusaram a continuar a combater em África uma vez que lhes foram equiparados os oficiais milicianos, e apesar da CEE e da UE, da ausência de catástrofes e guerras... trouxe o país até este limiar de A próxima década portuguesa - II. Tanto esforço de cultivar uma massa crítica que transformasse o país... e o resultado foi este! Valeu a pena? Não teriam todos eles melhor para fazer, quer intimamente para cada qual quer para os respectivos círculos próximos, do que gastar o seu tempo e energia numa educação cujos frutos afinal foram estes?...
Em Da influência cultural e da retórica... mas também... alinhavei algumas referências mais ou menos soltas sobre a influência das minorias sobre as maiorias. O exemplo dos seareiros parece sugerir que a expectativa sobre uma ocidentalização cultural dos portugueses (e lusófonos?) deva ser reduzidíssima... Só vislumbro 1 saída para esta sugestão: na minha passagem de olhos sobre os índices dos Nºs da referida colecção não dei conta de sinais duma ênfase estratégica na detecção, e resposta ao núcleo da resistência da maioria à influência implementada - como Howard Gardner recomenda. Será essa a pista que lhes faltou, ou, definitivamente, o pathos lusitano não é tocável pela retórica ocidentalizante?...
domingo, 4 de abril de 2010
Da influência das minorias sobre as maiorias - o ex. da Seara Nova
Etiquetas:
ciências humanas (e economia),
Portugal e o Ocidente
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Thanks for sharring importent information in this blog.
ResponderEliminarIt was very nice.
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