segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Universos paralelos... e uma nova ciência

Devo reconhecer que se calhar o melhor é que a leitora (e o...) não perca tempo com este meu post e siga de imediato para o excelente A Debate in Cosmology: The Multiverse, in: http://www.pirsa.org/C08022!

À laia de introdução já crítica, porém, ressalto aqui a opinião do Nobel de física Steven Weinberg de que a hipótese do multiverso (aliás, duma multiplicidade de conceitos de multiverso!), independentemente do impacto cosmológico e físico que possa ter, começa logo por ter impacto epistemológico - logo tornar-se-á relevante para a química inorgânica, para a botânica... provavelmente mesmo para a microeconomia, a psicologia social...
Num passo atrás, o conceito: em alternativa à ideia de que a multiplicidade dos corpos celestes se reúnem num mesmo conjunto - o "universo" - logo desde Anaximandro (séc. VI a.C.), passando especialmente pelo grande metafísico contemporâneo David Lewis (Counterfactuals, Cambridge, MA: Harvard University Press, 1973; ou On the Plurality of Worlds, Oxford: Blackwell, 1986), se tem proposto a ideia de uma diversidade daqueles conjuntos - hipótese do "multiverso". [Sobre o estado da cosmologia aponto ainda uma obra que me tem sido útil, a do português Pedro G. Ferreira, The State of the Universe - A Primer in Modern Cosmology, Londres: Weidenfeld & Nicolson, 2006, que aborda esta hipótese nas pp. 291-2].
Ao que sei tal hipótese assume 4 formas: a mais simples (decorrente da teoria geral da relatividade) é a da justaposição de universos - dada a limitação da velocidade da luz (ou radiação que traz a informação a qualquer observador) e a expansão do cosmos, cada ponto de observação cósmica, como a Terra, será o centro duma esfera observável - 1 universo - para além da qual são postuláveis corpos em afastamento cuja informação acaba por não chegar àquele centro. Outra decorre da teoria da inflação cósmica - pouco depois do Big Bang o espaço-tempo terá sofrido bruscamente uma expansão aceleradíssima, inflação esta que não terá cessado em certas regiões do universo inicial, em novos Big Bangs que dão origem a universos correspondentes, etc., implicados (e já não justapostos) nos seus predecessores, cada qual com as suas próprias leis físicas. Uma 3ª forma aplica o critério da selecção natural a uma reprodução de universos a partir dos buracos negros de cada universo-progenitor (felizmente esta reprodução não será sexuada... nem quero imaginar o que seria viver num planetasinho em pleno coito cósmico!!). Enfim uma última forma decorre da tese da mecânica quântica de que uma partícula desenvolve todos os movimentos que lhe são possíveis até que um, ao ser medido, se torna real. Assim também haverá um universo no qual estou escrevendo este post e o leitor a lê-lo, outro no qual faltou a energia eléctrica...
Passo então em frente: um universo, ou justaposição de universos onde as leis da física são as mesmas para qualquer observador, onde "Deus não joga aos dados" (Einstein), etc., é apenas uma hipótese. Ao lado apresentam-se outras que aceitam a diversidade das leis físicas, porventura quebrando-se assim o determinismo nuns quantos universos... Ou seja, a redução epistemológica dos fenómenos a certos elementos básicos e respectivas regras de associação será porventura uma possibilidade teórica em alguns universos (por sinal, naquele que habitamos), mas nada mais do que isso. Será isso suficiente para a implementarmos ingénua e generalizadamente? Ou precisaremos antes de 1 critério que determine quando e onde o reducionismo funciona, quando e onde não funciona... e então que teoria física, psicológica, neurológica... há que aplicar em cada uma destas áreas?
[Em Emergentismo: unicidade ou complementaridade? introduzi esta questão do critério pelo lado da relação complexidade/simplicidade].

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