domingo, 26 de julho de 2009

Emergentismo: unicidade ou complementaridade?

Como introduzi no post Prólogo e Agradecimentos de "O Nó do Problema Ocid..., no ensaio com esse nome apontei (na esteira de diversos autores) uma cisão paradigmática entre a ciência clássica - que procede por análise dos fenómenos, e redução de cada aspecto a elementos básicos e regras de respectiva associação - e as ciências da complexidade - que tentam uma explicação holística dos processos de emergência não-linear, i.e. da emergência de fenómenos não implicados pelos seus antecedentes. Mas nesse Prólogo também salientei que, para reforçar a possibilidade de crítica ao ensaio, não o iria actualizar. Precisamente um dos pontos que em Dezembro de 2008 teria corrigido o texto de 2004-2006 seria o da relação entre esses 2 paradigmas científicos. São mutuamente exclusivos, assumindo-se cada um como único - como terá ficado sugerido, ainda que não explicitamente afirmado, nesse ensaio - ou serão complementares, proporcionando-se cada um a determinadas situações ou fenómenos?
O Director da Sciences Humaines, Jean-François Dortier, no Nº 201 dessa revista em Fevereiro de 2009 (pp. 30-33), presta uma homenagem a Edgar Morin - um dos mais conhecidos promotores do paradigma emergentista ou da complexidade - tanto confessando as suas, de Dortier, reticências em Agosto/Setembro de 2008 sobre o tema proposto por Morin para a conferência deste último em Dezembro seguinte em Auxerre sobre a civilização ocidental - "O abismo ou a metamorfose" [v. post "L'abîme ou la métamorphose?"] - por julgá-lo demasiado catastrofista, quanto reconhecendo o acerto dessa pista perante os acontecimentos financeiro-económicos que se começaram a suceder precisamente a partir desses 2 meses. A divergência de Dortier face à teoria da complexidade tinha tido porém razões epistemologicamente ponderosas:
"Le monde est complexe, certes. L'individu est complexe, le cerveau est complexe, la société est complexe, la réalité est complexe, etc. La complexité s'appliquait à tout, de l'univers à l'humain, mais n'expliquait rien de précis et ne débouchait sur aucune découverte d'importance. (... l'idée de complexité...) semblait même broiller les cartes et rajouter de la confusion plutôt qu'apporter de la clarté au monde qu'elle prétandait expliquer" (p. 30).
A isso porém respondeu-lhe Edgar Morin:
"Une réalité simple appelle une pensée simple. Et la complexité des phénomènes appelle une pensée complexe. Certes de grandes découvertes des sciences reposent sur le postulat de l'unité et de la simplicité. Mais pour comprendre les phénomènes écologiques, biologiques, les dynamiques de l'histoire, on ne peut espérer trouver des lois simples. La complexité est l'unité du simple et du complexe. (...) Mon apport n'était pas de remarquer la complexité partout, c'était surtout de dire que la complexité est un défi à la connaissance. C'est ce défi que j'ai voulu relever en élaborant quelques instruments conceptuels à travers le cheminement de La Méthode" (pp. 30, 31).
A ideia chave, penso, é a definição de complexidade: La complexité est l'unité du simple et du complexe. Temos portanto uma "complexidade" de 1ª ordem, que se contrapõe à simplicidade (reducionista), e uma "complexidade" de 2ª ordem que as compreende a ambas. O problema epistemológico deixa pois de ser o da opção entre um e o outro paradigma, e passa a ser o do critério de elucidação, a jogar na 2ª ordem, das situações ou fenómenos de 1ª ordem que apelarão a um ou ao outro paradigma.
Um blogue não é local apropriado para argumentações de tamanha densidade teórica, mas seguramente voltaremos aqui a este tema para lhe sugerir pistas. E a 1ª que deixo é a seguinte:
Em 2005 coordenei uma pequena investigação prática escolar sobre o desenvolvimento económico açoriano, tendo escrito a parte teórica, na qual justificava o uso de instrumentos conceptuais institucionalistas, em detrimento dos clássicos ou até neo-keynesianos, pela maior adequação daqueles a processos de longa duração. Ou seja, aqueles dos quais o tempo é uma variável maior [cf. post Não todos, mas vários caminhos levam a Roma]. Em troca, neste último ano escrevi um artigo sobre uma questão técnica pedagógica, para a qual optei por um instrumento reducionista. A diferença é que, na pontualidade ou particularidade dessa questão, o tempo é desconsiderável. Deixo assim aqui a hipótese da relevância vs. irrelevância desta última dimensão se constituir como o critério de resposta ao problema que resulta da obra de Egar Morin.

Entretanto acrescento o link para uma trad. port. de La Méthode, vol. 1, num e-book da Europa América:
http://www.scribd.com/doc/13760655/EDGAR-MORIN-O-METODO-I-

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