quinta-feira, 23 de julho de 2009

Crise económico-financeira, transhumanismo... e a diferença entre "felicidade" e "prazeres"

No último ou penúltimo almoço com a Maria João Cavaco e o João Paulo Constância (prazeres (se não mais que isso) que só pecam pela irregularidade!) falámos da diferença, hoje tendencialmente ignorada, entre felicidade e prazer. O segundo termo designa alguma satisfação imediata e pontual. Já o anterior pode ser usado apenas para uma sucessão de prazeres. Mas assim falta um termo para designar antes a emoção própria a uma vida com sentido, que por isso valha a pena estar sendo desenvolvida a despeito dos diversos custos - desprazeres! - que também a constituem; "felicidade" era usado para designar esta outra emoção. Vem esta recordação a propósito de 2 recensões que li há dias:

Uma, de Crise et Rénovation de la Finance (Paris: Odile Jacob, 2009) do conhecido economista Michel Aglietta juntamente com Sandra Rigot; a outra, de Demain les Posthumains (Paris: Hachette, 2009) de Jean-Michel Besnier. A 1ª obra aponta como núcleo da renovação da finança contemporânea a substituição de uma lógica de investimento de curto prazo (na expectativa dos maiores dividendos por menor que seja a sustentabilidade económica, e sem atenção a consequências sociais e ecológicas, etc.) por uma lógica de longo prazo, no respeito pela sustentabilidade. Na 2ª obra, por sua vez, quaisquer projectos de fusão homem-máquina, de ligação do cérebro à internet, de digitalização das recordações de cada pessoa de modo que a memória destas (não sobre estas) perdure para além da morte física,... na medida em que dissolvam a responsabilidade pessoal e intransmissível são acusadas de constituirem uma "fatigue d'être soi". Nomeadamente, representarão o fim do ideal de cultura, a saber, o da auto-ultrapassagem do homem... de modo que nos resta procurar obter tantos e tão intensos prazeres quantos possível. Uma procura que, sem alvo orientador a cumprir, se quedará pelos investimentos (financeiros entre outros) de curto prazo.
Se do demain de J.-M. Besnier nos falta a técnica (para tais ligações à internet, etc.), os resultados económico-financeiros desde 2008 para cá parecem implicar uma redução de "felicidade" a "soma de prazeres" (por parte dos responsáveis por tais resultados, a começar por quem os fez, mas continuando com quem lhos permitiu, mais todos quantos têm votado nestes políticos em detrimento dos logo rotulados velhos do restelo...), redução que, representando a dissolução de qualquer meta humana a cumprir, indiciará uma já nossa posthumanité.

Deixo este post mais como conjunto de sugestões do que já como discurso articulado. Mas pode encontrar um destes últimos, nesta área temática, já aqui ao lado no blog de M. Berman, nomeadamente no post:

http://morrisberman.blogspot.com/2009/04/how-chic-was-my-progress.html#links

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