quarta-feira, 22 de julho de 2009

Crise civilizacional... e desenvolvimento técnico?!

Apenas 1 nota de apoio ao post Objecção à subordinação da técnica... e pista de c...:

A evolução técnica do último meio século tem sido formidável (designadamente na informática, robótica industrial, telecomunicações), e anuncia-se continuar com as promessas biotecnológicas, nanotecnológicas, etc., de modo que parece difícil falar de uma crise civilizacional global precisamente na civilização, o Ocidente, que tem promovido essa evolução. No ensaio que estrutura este blog limitei-me a postular uma dependência, a longo prazo, da técnica em relação à ciência (dependência lógica, pois processualmente, ou sobre a ciência tal como esta se faz, acontece ser ela estimulada pela técnica), para depois apontar uma crise paradigmática na ciência fundamental contemporânea.
Contra esse postulado, parece vir o parágrafo "The rise of science from technology" de James K. Feibleman em Technology and Reality (The Hague, Boston, London: Martinus Nijhoff, 1982: 8-9). Contrabalançando tal subtítulo, porém, logo nas 2 primeiras linhas o autor reconhece a ciência pelo método hipotético-dedutivo - de forma que o conhecimento não se erige de baixo para cima (bottom-up) a partir de quaisquer átomos - como pretende o projecto tecnocientífico mencionado naquele post anterior - antes evolui em espiral, duma hipótese teórica para baixo na confirmação dela, e daqui eventualmente para cima e para a frente induzindo alguma evolução das hipóteses. E estas são formuladas intelectualmente, não decorrem directa e neutralmente das sensações. Uma crise científica asfixiará assim, a longo prazo, o desenvolvimento técnico.
Nessa obra já algo antiga, a ciência é então dita emergir da técnica, por um lado, pela sua dependência actual de instrumentos técnicos complexos, por outro lado, num seu estatuto pragmático de actividade de resolução de problemas (tal como a técnica). Este segundo ponto, porém, apenas constitui uma assunção pelo autor da concepção pragmática de "conhecimento" [sobre o significado deste último nome posso sugerir a minha notasinha em http://www.webartigos.com/articles/13591/1/o-que-e-conhecer/pagina1.html], não reduz os problemas teóricos a práticos ou técnicos. Quanto ao uso de gigantescos aceleradores de partículas, etc., etc., esse uso, logo na concepção de tais instrumentos, é pré-orientado pelas hipóteses. Quando passam a ser estas a serem escolhidas conforme o custo daqueles - como acusa hoje Isabelle Stengers na nota 7 de O Nó do Problema Ocidental - prepara-se uma decadência científica. "rise", na frase acima é para escrever sempre em minúsculas.

Sobre o conhecimento (logos) da técnica, ou "tecno-logia", deixo aqui o link para um texto (entre outros) no Site Internet de l'UTBM - veja-se como esse conhecimento não dispensa hoje as dimensões social,...

http://www.utbm.fr/upload/gestionFichiers/Quelle-technologie_Lequin-Lamard_2037.pdf

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