Neste arranque de mais um ano escolar, volto a sair do tema deste blogue para apontar uma nota sobre o que possam significar 14's ou 19's. (Tanto se fala sobre avaliação... me parece que para se ficar por dizer tão pouco!).
Assumir que um estudante que apresente uma média de 19 valores é profissionalmente (o que inclui competências como relações inter-pessoais...) melhor do que um outro com média de 14 é pressupôr que:
- os currículos (mais particularmente os Programas) não só abarcam a totalidade dos conhecimentos e competências relevantes para a vida privada, social, e produtiva, como o fazem nas ponderações (proporção) apropriadas;
- os sistemas de avaliação são ajustados para o reconhecer;
- os professores têm condições práticas (tempo,...), competência, e disposição para implementar tais avaliações.
Se tudo isso se verificar, então um aluno de 19 - aquele que responde praticamente sempre como e quando o professor espera que o faça - estará perfeitamente preparado para o que o espera. Todavia, se por exemplo os Programas forem tão extensos que quase não deixem tempo para a iniciativa, e portanto para a divergência pessoal que daí decorre, então só os alunos que desenvolvem o que em psicologia se chama "pensamento convergente" (concentração num tema proposto, para o desenvolver) é que poderão aspirar ao 19. Juntamente com os alunos de pensamento convergente, mas não tão capazes quanto os anteriores, ficar-se-ão pelo 14 os alunos de "pensamento divergente" (originalidade na atenção a outras abordagens e temas que não os propostos).
Ou seja (ainda nesse exemplo), imaginemos que um responsável pela contratação de alguma organização precisa de alguém capaz de desenvolver um projecto que lhe seja destinado, e que tem 2 candidatos com 14 e 1 com 19. Sem dúvida deverá escolher este último. Mas se precisar antes de alguém para uma posição na qual possa ter que tomar a responsabilidade de inflectir o projecto inicial, e que assim seja capaz não só de perspectivar para além do que lhe é dado, mas ainda de criar soluções, logo à partida o candidato de 19 deve ser remetido para último lugar. Toda a atenção do contratante deve ser posta em deslindar se, entre os outros 2 candidatos, ambos são apenas menos capazes do que o anterior, ou se algum deles não recebeu essa nota pela razão de, uma vez consolidados razoavelmente os Programas implementados pelos professores, passava a dedicar-se a outros temas ou a outras abordagens. Se parecer ser este o caso, a organização contratará o candidato com 14.
Outros exemplos se podem arranjar não só para a condição dos currículos como para as outras duas. Mas o que importa reconhecer, creio, é o seguinte: basta que alguma dessas condições se não verifique regularmente, para que o significado da avaliação escolar não seja a de que um 19 é melhor do que um 14; antes, o 19 será melhor para umas funções, mas para outras alguns 14's são melhores (e importa distingui-los dos 14's apenas menos bons do que os 19's).
E depois ainda pode acontecer que a falha nessas condições seja tamanha que o significado profissional da avaliação escolar tenda para zero!... Num país cuja produtividade persiste em se não aproximar da média europeia esta possibilidade não pode deixar de ser considerada.
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