quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Os EUA e o mundo - séc. XXI

Em 2, 3 e 4 deste mês o investigador do National Security Analysis Department, da Universidade John Hopkins, Michael Vlahos publicou em The Globalist - The power of global ideas a trilogia "American power and the fall of Modernity". Respectivamente, in:
Trilogia que praticamente começa com a pergunta: "Are we really heading toward a new Dark Age, or can we defend civilization and still help those left behind?" [Costuma chamar-se "Idade das trevas" (Dark Age) à Alta Idade Média (séc. V d.C - séc. VIII/IX d.C.), quando as populações europeias se afundaram no esquecimento da civilização Clássica (greco-latina) e ainda não tinham gerado a civilização Ocidental]. Anunciando o autor que a sua resposta é optimista, embora não aquela que a maioria das pessoas mais gostasse de ouvir. Além de servir como chamada de atenção para esses 3 artigos, que bem a merecem, o presente post servirá como achega para a discussão dessa resposta.
Sob o reconhecimento do papel arbitral do Estado-Nação na ordem mundial Moderna, o problema de que Vlahos parte é o do actual abandono, por essas instituições políticas, de 60% da humanidade. (Na 1ª parte de O Nó do Problema Ocidental - A dimensão das ciências assumi aproximadamente o mesmo ponto de partida). Ao que essas comunidades começam a responder organizando-se em outras instituições que não o Estado-Nação - Vlahos dá exemplos como o das grandes congregações muçulmanas e cristãs protestantes na África Ocidental, fortemente relacionadas com organizações religiosas não africanas enquanto o poder do Estado nacional naquela região é fraco, de modo que os Estados (não apenas africanos!...) deixam de ser árbitros, ou os agentes políticos supremos, para se tornarem em mais um tipo de jogadores entre outros. Especificamente sobre os EUA, a essa trilogia acrescento a pista que abri em Um crepúsculo da América?.
A parte II da trilogia ilustra essa tese com análises da história recente do México, Paquistão... sociedades tradicionalmente oligárquicas - ou seja, nas quais uma minoria açambarca o poder e privilégios - onde grande parte da população respondeu organizando-se em cartéis que produzem os estupefacientes procurados por americanos e europeus.
Enfim na parte III esse investigador da John Hopkins vaticina que "global networks will continue, but only for those who manage to 'make it' by the first decades of this early-21st century. Unable to aid the 60% left behind, humanity's prosperous minority - whether they admit it or not - is increasingly looking to its own defense and preserving the integrity of a smaller system that is still viable. Globalization is now all about a minority living defensively within a seething non-state majority."
Se bem lembro na síntese de Matthew Melko, há 40 anos, já se prevê a alta probabilidade desta reaproximação ao feudalismo - mas referi a bibliografia exacta dessa previsão antiga em O Nó do Problema Ocidental. O que logo de seguida procurei nesse ensaio, porém, e que se não encontra na trilogia a que me estou aqui a referir, foi, num 1º passo, a previsão teórica da sustentabilidade desse smaller system. Isto é, a previsão sobre a possibilidade da continuação da prosperidade da minoria. Possibilidade negada, a longo prazo, pelos estudos das Nações Unidas que lá cito. A fazer fé nos argumentos aí avançados, portanto, ou bem que nestas primeiras décadas do séc. XXI a prosperidade é alargada à maioria da humanidade, ou bem que, nas décadas seguintes, aquela minoria deverá ser arrastada pelos deserdados.
A esses argumentos macro-económicos, aliás, poderá juntar-se a sequência que Vlahos aponta: actual problema económico-financeiro; à sua saída, problema de fornecimento suficiente de energia; a uma sua saída, problema ecológico. (Já de seguida colocarei um post com uma confissão sobre as emoções que estas análises e consequentes previsões me sugerem...).
Mas voltando ao percurso daquele meu ensaio em correlação ao de Michael Vlahos, num 2º passo - que de resto se aplica tanto aos estudos económicos da ONU quanto às teorias geológicas empregues por este autor para prever a escassez de petróleo, etc. - há que perguntar pelo estado da arte nas ciências. Introduzi no referido ensaio a tese de que também estas se partem hoje numa crise paradigmática - o que aliás me sugeriu a pergunta se o diagnóstico de crise civilizacional afinal não se circunscreverá a reflexo de uma deficiência nos instrumentos teóricos usados, sem que (por enquanto!) exista qualquer problema para além do âmbito teórico...
Daí a necessidade civilizacional dum 3º passo: o da procura da origem das teorias, em ordem à superação daquela crise paradigmática.
Foi com a hipótese de uma resposta a esta pergunta, e com o programa de um seu desenvolvimento teórico-prático, que terminei esse ensaio. Não sei se será funcional. Mas procurar alguma resposta não há-de ser pior do que aceitar de vez o cenário previsto por Vlahos!

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