domingo, 7 de fevereiro de 2010

Contra o cepticismo e subjectivismo diletante

Procurando neste blogue apenas assinalar pistas em diversas áreas do conhecimento, porventura estarei a sugerir a algumas pessoas uma atitude céptica - o melhor seria desistir de quaisquer orientações cognitivas da acção. Mas não só julgo que o cepticismo está errado, como penso mesmo que na presente situação económico-política tanto mundial quanto particularmente portuguesa seria especialmente perigoso. Trago assim aqui a nota 18 de O Nó do Problema Ocidental - A Dimensão das Ciências, o link para um artigo dum filósofo português contemporâneo que abre outra frente contra o cepticismo, e farei a seguir uma sugestão musical a propósito (!).
"Dretske ["The pragmatic dimension of knowledge", Philosophical Studies, 40 (1981) 3: 363-378] baliza o valor da justificação em conformidade à relação lógica de dois conjuntos das alternativas em causa em cada conhecimento. Ou seja, podemos recusar umas quantas situações como falsas sem pruridos cépticos. Em primeiro lugar, devemos recusar quaisquer situações que pertençam ao Conjunto de Contraste (CC) – o de todas as situações necessariamente eliminadas pelo que se sabe, ou seja, por aquilo de que se não está a duvidar (ex. se me pergunto se estou sentado num banco ou numa cadeira, não questionando pois a minha posição, posso desconsiderar a alternativa de estar a fazer pesca submarina – durante a qual não me sentaria). Em segundo lugar, podemos ainda recusar situações que pertençam ao Conjunto de Relevância (CR) – aquelas cuja não verificação não é necessária, mas se considera estarem justificadas. O erro dos cépticos, diz esse filósofo, é o de pressuporem que CR é sempre igual a CC, pois o primeiro revela-se apenas como um subconjunto próprio do segundo – isto é, pode haver alternativas não necessariamente excluídas que todavia sejam irrelevantes (como o ar que enche o frigorífico vazio de comida). Na questão sobre quando se poderá recusar situações hipotéticas, Dretske resume os critérios de pertença ao CR na ideia de que a diferença entre as alternativas relevantes e irrelevantes reside no tipo de alternativas que se encontra em cada situação objectiva – abrindo assim a porta a CR’s cujo número varie entre a unidade e algum número pouco superior, ou seja, a conhecimentos certos, ou quase.
Quanto às muito úteis thought-experiments dos cérebros numa cuba, da pastilha alucinogénica… pertence ao meu Conjunto de Contraste (i.e. considero necessariamente recusada) a situação de que os seus autores tenham deixado de fora dos respectivos Conjuntos de Relevância (i.e. que julgassem necessário verificar), assim que cansados de tanto pensar lhes tenha vindo a fome, a hipótese de que as suas despensas e frigoríficos fossem ilusões virtuais, e portanto se tenham deixado exaurir em vez de se considerarem justificados em procurarem aí comida. Alguém pode no entanto infirmar esta minha classificação – como no exemplo dos pára-quedas na nota seguinte – se se apresentar como contra-exemplo após ter passado o que nós outros, seus interlocutores, chamamos “meio ano” sem procurar nem receber alimentação pelo facto de não ter a certeza especulativa de que o frigorífico a contenha, ou que o biscoito que lhe levam à boca seja comestível. Numa palavra, os desafios cépticos são úteis para se destruir o realismo ingénuo, mas pertence ao meu Conjunto de Relevância (i.e. considero-me justificado em recusar) que adultos que reclamem um cepticismo total perante qualquer questão que remeta para princípios, valores ou metodologias sejam outra coisa que não diletantes, pseudo-intelectuais, ou meros oportunistas."

O cepticismo absoluto, rapidamente degenerado no diletantismo, abre ao chamado subjectivismo - e.g. para um conservador há 2 sexos, para um construtivista haverá tantos quantas as possibilidades dum ser humano viver as questões de género, e o 1º número é tão verdadeiro (para aquele) quanto o 2º o é (para este). Mas sobre o subjectivismo passo a palavra a Desidério Murcho em http://criticanarede.com/antropocentrismo.html.
Em suma, como The Monkees, ainda que numa versão minimalista podemos dizer: I'm a believer!

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