quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Os actuais agentes da ordem mundial

Em correlação ao post anterior creio vir a propósito a nota 2 do ensaio (referido na coluna ao lado) em cujo horizonte evolui este blogue:
"A guerra é outro tema que exemplifica a ruptura dos paradigmas modernos, os quais presumem que o Estado é o principal interveniente nesse fenómeno. Em conformidade a estes últimos o pensamento cinde-se entre duas interpretações: por um lado a teoria dita liberal ou idealista da estratégia, que defende que os Estados tendem naturalmente a concertar-se entre si em vista ao comércio, etc., para optimizarem os poderes que lhes são respectivamente possíveis. Surgindo a guerra apenas por culpa dos que se desenraízam da ordem das coisas, os quais importa assim destituir. Por outro lado a teoria dita realista, segundo a qual os Estados são naturalmente predadores uns dos outros. Pelo que, enquanto a Nação constituir a suprema identidade comunitária, na falta de qualquer instância reguladora os Estados manter-se-ão em jogos de poder que dão lugar à guerra sempre que se quebre o equilíbrio. A paz dependerá então da manutenção dos equilíbrios naqueles jogos. Os anos 1990, porém, subverteram logo pela base esse equacionamento Moderno das relações mundiais. Pois pela primeira vez um império estendeu-se à escala planetária (ainda que apenas nessa década!), ao mesmo tempo que os restantes Estados sofrem os condicionalismos das multinacionais económicas, das mafias, etc. Com esta relativização dos Estados-Nação deixou de se poder equacionar as relações mundiais como a simples alternativa entre o idealismo liberal e o realismo, em função do poder legislativo, executivo e judicial relativo a uma Nação e um território. Vejam-se conflitos como o que opõe a Al-Qaeda e o Ocidente, que parece ultrapassar uma disputa por esse poder.
            Na nova linha dita “construtivista” em teoria da estratégia, Thierry de Montbrial (2002) propõe então o conceito de “unidade activa” para identificar os agentes estratégicos – aqueles sem os quais as relações colectivas seriam diferentes. Isto é, dada uma relação ou problema, “agente” é aquele que faz aí qualquer diferença. Podem ser unidades activas nessas relações os Estados-Nação, mas também as ONG’s, os grandes bancos, a ONU, etc., as quais fazem a diferença em planos e de formas distintas. Mas, para a fazerem, todas têm que verificar duas condições: em segundo lugar, uma organização; em primeiro lugar, fundando a anterior, uma cultura comum aos respectivos elementos. É a partir destas que as unidades activas orientam os seus comportamentos. Cabe assim formular o processo de constituição cultural."

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