domingo, 28 de fevereiro de 2010

Livros electrónicos (e-books) e acesso à informação

O post de Gary Becker http://uchicagolaw.typepad.com/beckerposner/2010/02/are-e-readers-the-beginning-of-the-end-for-books-becker.html, mais os respectivos Comentários (a que apenas dei uma vista de olhos) e o post de resposta por Richard Posner, especulam sobre as consequências no acesso à informação e à reflexão deste novo salto na tecnologia da edição que é a dos e-books. E que eu não haveria de deixar de abordar aqui uma vez que este blogue se integra precisamente nessa tecnologia.
A alguém da minha geração - que li e estudei (enfim... o pouco que o fiz!) em papel - parece óbvio que os e-readers não substituirão os volumes impressos em relação à facilidade de manuseamento para consultas, avanços e recuos, e para sublinhados e notas nas margens, e, mesmo que a tecnologia praticamente anule essa diferença, não substituirão os bons e velhos livros no tacto do objecto a explorar, no cheiro misterioso do papel fechado há muito, no conforto das lombadas que não de plástico... Mas não me precipitaria a estender esse juízo às gerações que substituíram a futebolada de rua pelas play-stations, as conversas cara a cara pelos chats ao mesmo tempo que falam ao telemóvel, etc.
Além dessa cautela, talvez o confronto entre a edição em papel e a electrónica deva ser perspectivada mais em complemento do que - como tenderam Becker e Posner - em alternativa. Como disse, este blogue é um exemplo: o ensaio que traz este título está disponível electronicamente; pode ser alugado nesse formato, e não sei se comprado também (para down load); mas pode ainda ser encomendado (no Brasil) em formato de papel, numa edição afinal semelhante à da Oxford University Press, a um preço muito reduzido (visto que não precisa compensar eventuais sobras em armazém). Ou seja, o formato do e-book, mesmo para um ensaio que o leitor porventura gostará de anotar nas margens, começa por se constituir como um outro acesso de consulta inicial que não o dos escaparates das livrarias ou bibliotecas. Mas depois não exclui a leitura em papel, aliás facilita-a no preço, ainda que a atrase (mantendo-a no formato digital do aluguer) no tempo da encomenda e entrega por correio. A complementaridade entre papel e digitalização verifica-se ainda nesta possibilidade de se associar um blogue a um livro, para alargar o horizonte deste último, para eventuais trocas de ideias entre leitores e autor, etc.
Em suma, se a escrita constituiu porventura o maior salto em frente do progresso humano, se a imprensa constituiu uma revolução por estender a comunicação escrita além da minoria que poderia aceder a manuscritos raros, inclino-me a apostar que os e-books apenas potenciarão a herança de Gutenberg.

2 comentários:

  1. Potenciam a herança de Gutenberg e (para mim) de que maneira! Graças a este formato, tive acesso a dezenas de livros técnicos sobre assuntos de interesse pessoal que, em papel, não encontraria em Portugal ou, se encomendasse pela Internet, não veria preços "confortáveis".

    Quanto ao "sabor do papel" e notas nas margens, temos sempre a opção «Print»...

    Cumprimentos.

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  2. Caro Sam
    admito que a uma pessoa da tua geração o print seja uma opção.
    Mas eu guardo com carinho uma 1ª edição de "History of Christian Philosophy in the Middle Ages", de Étienne Gilson, com uma dedicatória escrita pelo filósofo francês a um seu amigo, e que guarda o cheiro da biblioteca canadiana cujo Director me ofereceu o livro quando me vim embora... Não há print que (na minha idade!) valha esse cheiro, a caligrafia de Gilson...

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