"Decía Hegel que el cristianismo o era Trinidad o no era nada. Bueno, si esto es verdad para el cristianismo más si cabe es válido decir para el Islam que o es unitarismo o no es nada. La unidad de Dios (tawḥid), el que nada a Él pueda ser asociado, o sea, a Él parejo es no uno de los pilares del Islam, sino el pilar mismo donde se
asientan los otros cuatro."
"En esta época en que se buscan puntos de unión interculturales también creemos es menester dar cuenta de aquello por lo que en tiempos y, todavía hoy, nos separamos y por lo que nunca podremos ser unos. La polémica que traemos a colación, si bien antiquísima, pone sobre la mesa la más sutil polémica de la que tenemos noticia entre un filósofo árabe musulmán (de hecho al ser el primer auténtico
filósofo en el Islam y por ser de origen árabe es también conocido como “el filósofo de los árabes), ‛Abû Yûsuf Ya‛qûb ibn ‛Ishaq al-Kindī (796-873) y otro filósofo árabe, pero esta vez cristiano y eminentísimo discípulo de al-Fârâbî, Yahya ibn ‛Adiī (m. 974)."
Estas são citações da Introdução, pelos tradutores castelhanos Santiago Escobar Gómez e Juan Carlos González, de La Polémica Trinitária entre os 2 pensadores árabes acima mencionados, que a LusoSofia disponibilizou online em http://www.lusosofia.net/textos/escobar_gomez_gonzalez_lopez_polemica_trinitaria_yaha_ibn_adii_y_al_kindi.pdf . Assinalo este opúsculo como sugestão de leitura teológica, também metafísica - embora não chegue a indicá-lo aqui na respectiva etiqueta porque o interesse aí é bastante indirecto - mas principalmente para voltar à questão da herança árabe e muçulmana na cultura lusófona. Refiro-me à valorização da unidade e unicidade, uma vez estas reconhecidas no ente mais valorizado (Deus).
No rito religioso, não parece que as culturas lusófonas tenham seguido esta orientação. Mais do que a consideração cristã da Santíssima Trindade, e da consideração católica de Maria e de diversos Santos, aquelas culturas integram o culto do Espírito Santo, inicialmente à margem da hierarquia católica, santos populares não reconhecidos por esta última, os brasileiros integraram ainda tradições animistas africanas, etc. A questão é se esta desmultiplicação se constitui como fundamento de um reconhecimento da diferença em geral.
E a resposta sugerida por estatísticas como as aqui referidas em http://onodoproblemaocidental24x7.blogspot.com/2010/01/da-possibilidade-do-liberalismo-no_11.html é negativa. Estas outras sugerem antes a valorização social do colectivo, salientando-se apenas as diferenças hierárquicas entre níveis de sociedades organicistas onde cada indivíduo apenas é reconhecido segundo a respectiva função para o organismo social. O que 1º se valoriza, pois, é a unidade.
Mais: se se valoriza isso ao mesmo tempo em que se proclama uma identidade ocidental, culturalmente cristã, dessas mesmas culturas, desmente-se uma separação fundamental entre estas e aquela identidade. A qual porém, logo na postulação de Deus como trino a despeito de uno na Sua divindade, coloca a diferença a par da unidade. Ou seja, se há 3 pessoas em Deus, há 3 focos de iniciativa, 3 modos de acção,... mesmo que se concertem entre si, no mínimo não é límpido que possam ser reduzidas a órgãos de um organismo. Uma tal redução, em especial se ingénua (não reflectida criticamente), abre caminho àquele desmentido de uma separação entre a tradição efectiva lusófona e a identidade ocidental, na postulação de uma unicidade cultural, isto é, de uma única possibilidade de ser, na subordinação de qualquer diferença à unidade.
Nem que essa unicidade reste como a pura tensão entre ser e não-ser, verdade e falsidade... que também por referência à cultura árabe aqui abordei em Portugal - uma cultura de fronteira!
Fica a questão do significado cultural daquela diversidade no rito religioso lusófono... Não esquecendo porém que o mais significativo num rito não será a sua forma, mas o modo como é vivido pelas sociedades que o implementam, indiciado indirectamente em tudo o que se relacione a tal rito. Por exemplo, se poderá revelar uma fé católica... também poderá expressar um sentimento panteísta bárbaro prévio à cristianização, modulado hierarquicamente pelos valores muçulmanos que apontámos acima, e quase que apenas travestido das formas ou ritos católicos - como alguns suspeitaram no culto popular do Espírito Santo.
(Numa palavra, "Portugal" designará um país efectivo... ou um sonho, um artifício retórico de um Estado que melhor se chamaria qualquer coisa como "Marrocos-do-Norte"?)
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