segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Da possibilidade do liberalismo no Brasil e em Portugal - 3/3

Para uma classificação das culturas políticas brasileira e portuguesa vejam-se os resultados obtidos no conhecido projecto Hofstede, respectivamente em http://www.geert-hofstede.com/hofstede_brazil.shtml e http://www.geert-hofstede.com/hofstede_portugal.shtml, no qual se mede:
– o grau de aceitação, por parte dos membros desfavorecidos de qualquer organização (do Estado à família), da desigualdade que os castiga; quanto maior, maior será também a aceitação de poderes discricionários e autoritários pelos favorecidos (Power Distance Index);
– o grau de integração dos indivíduos em grupos, como a família, organizações religiosas, etc., mas sem referência ao Estado(Individualism);
– o grau de assertividade e competitividade, com uma maior variação nestes valores pela população masculina do que pela feminina de cada sociedade (daí o nome do indicador Masculinity);
– a tolerância da sociedade à ambiguidade e incerteza, de forma que, quanto maior for o valor neste indicador, maior será a aceitação do totalitarismo, e menor será a aceitação do espírito crítico na filosofia, na investigação científica fundamental, etc. (Uncertainty Avoidance Index).
Me parece intuitivo que a cultura política portuguesa, verificando os valores indicados no gráfico daquele link, se encontra no quadrante superior esquerdo do gráfico que descrevi em Da possibilidade do liberalismo no Brasil e em Por... . Bem como muito provavelmente se estruturará neopatrimonialistamente, ou perto disso – v. 3 círculos concêntricos e a (im)possibilidade do l... . De modo que não é apenas o liberalismo que aqui não parece possível a curto prazo, qualquer organização moderna é enjeitada pelo neopatrimonialismo - mesmo um conservadorismo visará aí mais a manutenção da estrutura piramidal carismática, do que a manutenção do que historicamente tenha vindo a revelar-se produtivo e consistente.
Já os valores brasileiros sugerem uma acentuada diferença - ainda que não diametral - indiciando uma cultura política mais compatível com organizações modernas, como a liberal, a social-democrata, ou mesmo a versão conservadora que contrapus à versão conservadora neopatrimonalista.
Tanto pior para os portugueses, que as organizações modernas têm cumprido muito melhor os objectivos de desenvolvimento humano (além do crescimento económico) proclamados desde o 25 de Abril e a adesão à CEE!


Post Scriptum - No 1º post destes 3 assinalei que ao se falar de uma ocidentalidade lusófona porventura  será apropriado não esquecer Cabo Verde. Se assim for, neste campo da cultura e organização política recomendaria a estes nossos irmãos a lusofonia que lhes fica a oeste, não a que fica a norte...


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