segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Por um 2010... com sentido! (2/3)

No post anterior abordei a questão do sentido da vida mediante a biologia - que visa em geral o que nasce e morre, se alimenta, se reproduz... Mas isso talvez pouco diga especificamente, não só à vida humana, mas ainda a cada pessoa nas suas situações concretas. Para esclarecer um sentido que oriente as opções que temos de fazer nessas situações poderá ser mais significativa a abordagem filosófica - refiro-me à que analisa as expressões dos nossos comportamentos, etc.
Para esta outra abordagem um bom utensílio será a colectânea de AAVV, Viver para Quê? Ensaios Sobre o Sentido da Vida (org. e trad. Desidério Murcho, Lisboa: Dinalivro, 2009). A qual reúne ensaios argumentando pela falta de sentido, outros pela relatividade subjectiva de qualquer sentido, e outros por alguma objectividade de um sentido. Uma vez que o inquérito que aqui apresentei em Da filosofia e das suas tendências actuais sugere que a maioria dos filósofos actuais tenderá a aceitar a 3ª posição (realismo moral: 56,3%) - e também porque é a minha! - destaco os 2 ensaios que a representam: Susan Wolf, "Felicidade e sentido: Dois aspectos da vida boa" (pp. 157-186); Neil Levy, "Despromoção e sentido na vida" (pp. 187-205).
Em síntese, Wolf propõe que "vidas com sentido são vidas de entrega activa a projectos de valor" (p. 161). A quem tender a concordar, aqui fica o pedido de ajuda intelectual da filósofa: "Dado que não tenho qualquer teoria do valor com a qual possa provar a coerência do conceito ["projectos de valor (em contraste com outros projectos)"] ou refutar todos os desafios cépticos, nada mais posso fazer senão reconhecer a vulnerabilidade da minha concepção do interesse próprio quanto a este aspecto" (p. 167).
E quem assim se dispuser a resolver aquela vulnerabilidade teórica será logo confortado pela tese de Neil Levy! A saber, os referidos "projectos de valor" são constituídos por actividades que vão redeterminando os seus fins à medida que os realizam, como a procura da verdade (ex. numa ajuda a S. Wolf), da implementação da justiça, a criação artística... fins estes que por sua vez servem de referências últimas às restantes escolhas e comportamentos. Cabe depois a cada um, na sua circunstância e segundo as suas apetências, escolher em geral o tipo de projecto que lhe for mais adequado, e concretamente em qual poderá trabalhar.
Poder-se-á talvez objectar que, se as noções de "verdade", "justiça", "belo"... forem totalmente relativas ou subjectivas, então cada um encontrá-las-á onde isso lhe der prazer, e caímos numa teoria hedonista sobre o interesse próprio (que zela pelo esclarecimento de um sentido da vida, v. Wolf, p. 158). Bom, também agora o que 1º se poderá dizer a quem se dispuser a resgatar alguma objectividade daquelas noções - confirmando as teses desses 2 filósofos contemporâneos contra os hedonistas - é que estará assim experimentando, em pessoa, a tese de que o sentido se constrói no trabalho pela verdade...

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