domingo, 10 de janeiro de 2010

3 círculos concêntricos e a (im)possibilidade do liberalismo no Brasil ou em Portugal - 2/3

Outra abordagem à cultura política que condiciona a aplicação de qualquer ideologia - apresentada por Joaquim Aguiar em Fim das Ilusões, Ilusões do Fim, 1985-2005 (Lisboa: Alêtheia, 2005) de que também me servi no post anterior - parte da teoria de Max Weber sobre as três formas de dominação: “a forma burocrática-racional (típica das sociedades modernas), a forma carismática (que aparece em condições de liderança personalizada (…)), e a forma patrimonialista (uma forma de dominação tradicional, que se estabelece entre um centro patrimonial e a rede de dependências (…))” (op.cit., 100).
Segundo S.N. Eisenstadt esta forma tradicional foi ajustada depois da Idade Média em algumas sociedades, com as estruturas estatais a substituírem as anteriores estruturas medievais, frequentemente combinada com a segunda forma de dominação. Surgem assim as políticas neopatrimonialistas, que se caracterizam i) pelo paternalismo – “o poder centralizado acumula os recursos, mas fica com a obrigação de satisfazer as necessidades da sociedade”. ii) Por serem acumulativas – “o centro (…) acumula os recursos para o financiamento dos investimentos relevantes”. E iii) por serem extractivas – “na forma de impostos (…) para pagar o endividamento” (ibid.).
Ou seja, como que no meio de três círculos concêntricos, ao centro uns poucos acumulam o capital – não só financeiro e físico, mas também emocional, etc. – nem tanto para investirem reprodutivamente, mas antes para perpetuarem a estrutura piramidal; o que fazem distribuindo uma fracção desses capitais pelos seus diversos ajudantes directos – em quantidade suficiente para estes ficarem satisfeitos, insuficiente para que se autonomizem dos primeiros – que se encontram no segundo círculo; e uns e outros asseguram a sobrevivência e alguma distracção aos muitos restantes, facultando-lhes ainda a identidade de membros dessa comunidade, em troca da função que compete aos elementos do terceiro círculo: aplaudir as vidas e obras dos elementos dos círculos interiores. “Este sistema de políticas e de racionalidades produz nas sociedades neopatrimonialistas estratégias de fraco potencial modernizador” (op.cit.: 96)”.
Parece-me intuitivo que, sociedade que se organize assim - e direi: a começar logo na célula social que é a família! - não tem condições para implementar uma ideologia liberal.

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