Nestes dias que correm em Portugal vem ainda mais do que de costume a propósito a chamada de atenção de Alexandre Quintanilha para os valores que orientam a ciência, que aqui referi indirectamente em Ciência - justificação... e beleza! . A saber "i) a exactidão preditiva, ii) a coerência interna da teoria proposta, iii) a consistência desta última com os princípios que estruturam o horizonte em que ela se integra, iv) a sua capacidade de esclarecer simultaneamente dados distintos, e v) a sua fecundidade na abertura de novos domínios de pensamento. Valores aos quais [Quintanilha] adiciona vi) o da beleza da teoria". Penso que os valores ii e iii podem ser reunidos num único; em troca, mesmo quem não aprecie particularmente a navalha de Ockham (que corta os conceitos que se não usam) suponho que aceitará, antes do da beleza, o valor da economia teórica - de modo que entre teorias alternativas se preferirá aquela que libertar mais recursos ou potencial para desenvolver o trabalho a que se proponham.
Vem isso a propósito, por um lado, porque esse é o tipo de pensamento que melhor tem esclarecido o mundo, ou resolvido problemas, em especial desde a Revolução Industrial para cá. E se nós temos hoje problemas ou confusões e obscuridades em Portugal!...
Mas também vem a propósito, por outro lado, porque para a resolução dos problemas estritamente económicos precisamos de capital, que apenas podemos receber dos países (para não variar!) do norte, cujas imprensas não encontraram há dias melhor sigla para designar o conjunto de Greece, Portugal, Spain, Italy (aqui por ordem decrescente de dificuldade financeira) do que "PIGS"... É o regresso da lenda negra, com que aqueles países procuraram legitimar a conquista dos impérios ibéricos enfatizando tudo o que nestes encontravam de mal, e silenciando o que encontravam de bom. E entre o mau encontravam o obscurantismo, a falta de racionalidade crítica, o pensamento único... enfim, a aversão à cientificidade. Não importa se concordamos ou discordamos deles; o que importa é que é do juízo deles que dependem hoje as nossas finanças, e que eles nos estão julgando tendencialmente como pigs - imagina-se a sua disposição para nos emprestar dinheiro!
Por estas 2 razões penso que, nestes dias que correm, é imperativo que, primeiro, suspendamos qualquer pensamento inclusivo de "ser" e "não ser", "verdade" e "falsidade" - que aqui ando a apontar desde Portugal - uma cultura de fronteira - e que reconheçamos que há coisas que têm consequências para lá do que dizemos delas (são as que satisfazem o predicado "ser"). Bem como que há ideias que satisfazem o predicado "verdade" - ou "correcção", "utilidade"... aqui não faz diferença - e outras que não o satisfazem, e que os melhores critérios para as distinguir, percebendo por este meio as consequências mais prováveis de cada opção possível, são os que implementam os valores científicos.
Desde a discussão do Orçamento de Estado na especialidade, à decisão sobre TGV's e aeroportos, passando pela pressão pública sobre tudo isso, aí estaremos escolhendo entre os pensamentos inclusivo ou disjuntivo, mágico ou científico.
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