segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Entre Leo Strauss/Al-Zawahiri e Charles Taylor - A força das ideias

Um automóvel a bloquear-me a garagem impediu-me há bocado a comparência a uma reunião, abrindo-me tempo para pôr mails em dia e para ver na íntegra o filme "The power of nightmare", 1ª parte, no post anterior - não direi que este foi um mal que veio por bem... mas pelo menos que pôde ser bem aproveitado!
Apesar da imagem cortada, a locução acompanha-se bem - julgo ser uma leitura muito sugestiva da história internacional recente, e do que conta como seu factor.
Mas depois do seu longo visionamento apontarei apenas 2 notas e mais 1 (que a garagem bloqueada não desculpa a falta a outras tarefas!...): Uma, que bastaria a George Orwell ter chamado ao seu livro "2000", em vez de "1984", e ter dado umas pinceladas religiosas nos discursos oficiais dessa sua obra, para que esta se tornasse numa candidata acabada a representação dos nossos dias segundo aquele filme.
A outra nota, para assinalar que o liberalismo a que se referiu tanto Leo Strauss - acusando-o de promotor do egoísmo e enfim do relativismo e debilidade moral - quanto os islamitas como Al-Zawahiri - acusando-o de ter impregnado o povo egípcio cegando-o para uma reacção ao regime de Sadat - será quando muito apenas uma degeneração do liberalismo que Charles Taylor, na 2º obra referida em 1989-2009: 20 livros que mudaram a nossa visão do  , identificou como próprio da Modernidade ocidental.
O filósofo canadiano argumenta que o conceito de "indivíduo" não se constitui por abstracção de qualquer rede social, isolando-o como um átomo de uma molécula. Antes constitui-se precisamente na sua interacção nas redes de que participa, não se lhes esgotando dada a iniciativa, ou as escolhas que cada indivíduo continua fazendo nesse jogo de influências, condicionamentos, apelos, oportunidades... Segundo este argumento de Taylor, dir-se-á então que os neo-conservadores que invocam aquele 1º filósofo norte-americano, bem como os fundamentalistas religiosos islâmicos, se opõem a uma realidade que simplesmente não o é (real) - i.e. o "liberalismo" de que falam pouco terá acontecido.
Isto não significa, claro, que problemas como a alteração dos equilíbrios ecológicos, a quebra demográfica, a evolução da criminalidade, o aumento das dívidas públicas e do endividamento externo de muitos países ocidentais,... não aconteçam. Apenas que a sua causa não será o liberalismo que mais aconteceu desde a II Revolução Industrial... aliás, será de perguntar se mais depressa o neo-conservadorismo que lhe respondeu desde o fim da década de 1970 não terá algumas culpas no cartório...
Enfim a 3ª nota, anexa às anteriores: quanto mais plausível parecer a interpretação da história proposta naquele documentário da BBC, maior parecerá a força das ideias - e assim a responsabilidade de quem as promove.

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