quinta-feira, 27 de agosto de 2009

"Leonardo da Vinci - O Génio"


Visitei ontem a exposição nomeada no título deste post (não toda, infelizmente, que calculei mal o tempo e depois tive que sair antes do que ela merece).
Lá está, quase insignificante (!) entre máquinas de tamanha engenhosidade, o instrumento de apoio à pintura com perspectiva - dando corpo à nova mundividência moderna da posição dos objectos num espaço absoluto, onde se apresentam segundo a perspectiva do observador - em vez da sua apresentação medieval segundo os respectivos significados (o mais importante seria o maior mesmo que visto a maior distância)... Lá estão os espantosos estudos sobre o corpo humano - na sua velhice, no seu movimento natural - o corpo daquele observador das relações dinâmicas entre as peças no espaço, que passa a criar - qual novo Criador! - toda uma série de novos corpos articulados e dinâmicos.
Outros artistas (os cubistas) como Leonardo deram depois o passo de se libertarem do espaço absoluto, e ficaram só com a perspectiva do observador (que pode juntar a frente e o perfil dum rosto simultaneamente), na mesma época em que os cientistas - que aquele pintor e inventor, na sua iliteracia matemática, não foi - reduziram o espaço às medições (segundo leis constantes, ex. velocidade da luz) de cada observador em movimento. E assim chegámos a esta vida de tantos méritos técnicos... e tão pouco sentido (de que o mundo medieval era prenhe).
O génio de Leonardo de intervenção num espaço absoluto - recriando pela pintura e desenho, criando máquinas - é um hino ao potencial humano! (A quem se encontra nesses seus antípodas, como eu, esta exposição maravilha por quão diferente o homem poder ser, e por quão longe poderem chegar as suas obras nesssas diferentes direcções!) Mas se onde essa Modernidade nos trouxe foi, por exemplo, à procura de todas as distracções possíveis deste primeiríssimo facto - cuja disssolução ainda não conseguimos criar - do tempo, do envelhecimento, e da morte, então hoje precisaremos dum génio maior ainda: o daqueles que não só pressuponham (ou mesmo elaborem) uma concepção do espaço e do tempo que faculte operações de resolução de problemas, e que concebam em conformidade instrumentos para tais resoluções, mas que façam tudo isso na implementação dum sentido para a nossa temporalização, e para uma vida que é mortal.

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