sábado, 1 de agosto de 2009

Uma cultivação em "T"

De Aristóteles aos philosophes iluministas foi possível - a pessoas cujos dias ainda assim estou convencido de que teriam 36 horas - saber de quase tudo. Enfim, do 1º aos 2ºs já se desceu do "saber" ao enciclopedismo, senão diletantismo. Se calhar por reacção a esta última condição, após o fim do séc. XVIII o Iluminismo avançou para o positivismo, contemporâneo da divisão taylorista do trabalho, no regresso a um saber efectivo, funcional, mas especializado.
Hoje, na sociedade de comunicação, na economia do conhecimento, quando ainda por cima o desenvolvimento do saber tem obrigado a sucessivas especializações dentro das especializações anteriores (pergunte-se a um algebrista pelo estado da arte em análise ou em geometria...), esta especialização deixou precisamente de ser funcional. É o caso quando os factores que se embaraçam num dado problema não podem todos ser formulados algebricamente, ou matematicamente, ou mesmo cientificamente, e requerem outras formulações (ex. artísticas) que têm que ser combinadas com as anteriores para uma resolução do problema.
Todavia, só poderemos regressar ao enciclopedismo diletante se tivermos quem tome conta de nós... (A nós, portugueses, que de tão habituados à mama europeia de 1986 para cá adormecemos no esquecimento de que o oiro do Brasil também acabou um dia, é altura de lembrar que o QREN acaba já em 2013).
Neste contexto, para se garantir alguma funcionalidade, penso que às pessoas cultas contemporâneas cabe evoluírem em "T": no segmento horizontal, devemos desenvolver uma cultura geral que, por um lado, nos permita (a) reconhecer quaisquer problemas que se não deixem formular imediatamente pelos instrumentos especializados que dominemos (algébricos, psicanalíticos,...); bem como (c) avaliar eventualmente a sua resolução para além do estrito contributo mediante estes instrumentos; passando por (b) comunicar com quem domine os instrumentos de outras especialidades também necessárias à formulação e resolução do problema dado. Estes são 3 contributos da cultura geral para a resolução de problemas ou o cumprimento de projectos.
Mas, por outro lado, para se resolver uma equação de 2º grau ficará em maus lençóis quem tiver uma ideia do significado de "álgebra"... mas não conhecer a respectiva fórmula resolvente. Assim se requer o segmento vertical do T.
As competências e conhecimentos especializadíssimos que compõem este último segmento são como que o artesão que, fechado na sua oficina, molda e pinta figurinhas de barro. Para poder pagar porém o material e a oficina é necessário perceber que no mercado há procura por algo - ex. presépios - que possa ser satisfeito por tais figurinhas, é necessário cooperar com quem as transporte e venda, etc., etc. Todo este enquadramento ilustra o que cabe ao segmento horizontal. Cada um de nós, hoje, tem que ser quem percebe, coopera... e ser também o artesão.
A questão que se coloca a cada pessoa é qual o ponto, do segmento horizontal, onde irá encetar o segmento vertical - ou qual o ponto deste a partir do qual abrirá o anterior.

1 comentário:

  1. Classifiquei este post (também) com a 1ª etiqueta porque o presente blogue divaga pelo meu segmento horizontal, procurando lembrar a verticalidade que se abre em qualquer parte. Sob as balizas, porém, do ensaio referido ao lado, e que originou o blogue. Daí ser natural que uma vez por outra ande à volta de onde, nesse ensaio, apontei o segmento vertical.

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