No capítulo "Do (re)conhecimento da ignorância..." do livro referido no post anterior lemos que "a síntese é sempre provisória (...) conservadora, estática; é a análise que permite o avanço" (p. 109) - isto é, os grandes conhecimentos que tudo englobam são inúteis (além de ultra-incompletos!), só na especialização é que se avança alguma coisa, sempre sem grande compreensão do todo. E com esta síntese do sentido de quaisquer conhecimentos englobantes o autor pretende desmentir a validade de qualquer síntese... Não fosse Até a não contradição entra em relativizações?!...... , e teria dificuldade em entender algum sentido nesse capítulo! Mas dado este último post, e considerando o resto daquele capítulo, creio que poderemos avançar para um refraseamento do dito: pela minha parte - diria o autor - ainda não me apercebi de algum conhecimento que abarcasse tudo...
Onésimo Teotónio Almeida aflora a universalidade possível, penso eu, na p. 111 quando diz (com a graça que caracteriza a sua escrita) que "o nosso agir na vida real tem mais de engenharia do que de Física ou Matemática. Asseguramo-nos dos mínimos de certezas para a vida continuar". Vou-lhe aqui acrescentar um apontamento:
O campo teórico para que esta porta pragmática (assegurarmo-nos das certezas que permitem sobreviver) abre é para a actual discussão sobre o que é o conhecimento (por sinal o autor quase a atravessou na p. 95 - "...década de 70, quando havia pelo menos um certo consenso de que conhecimento era justified true belief. Praticamente tudo foi posto em causa a partir dos anos 80" - mas bateu em retirada). Designadamente, a oposição entre o invariantismo - "conhecimento" tem 1 significado nuclear - e contextualismo - aquele significado varia com os contextos. Esta 2ª posição desenvolve o pragmatismo, com a vantagem que Onésimo lhe reconhece... embora para se embaraçar no problema do critério para o reconhecimento do significado de cada vez apropriado (Há tempo assinalei o que sei (!) deste campo teórico em 2 páginas A4 em http://www.webartigos.com/articles/13591/1/o-que--conhecer/pagina1.html, talvez seja aqui útil).
Em todo o caso, julgo que o contextualismo volta a validar expressões como "Sei isso!", "Tenho a certeza absoluta que...", etc., que os embaraços do invariantismo deixaram tão mal tratadas. Apenas esse saber, essa certeza, já não são teoréticas - não podem ser interpretadas invariantistamente! - mas práticas. Constituem o conhecimento implicado, e apenas enquanto implicado, na tomada de decisão e na acção que é consequente a esta última. Assim é legítimo usar essas expressões, por exemplo, quanto ao conhecimento sobre o momento de arrancar por parte de condutores em cruzamentos com semáforos - se não soubessem, isto é, se as suas crenças não tendessem infinitesimalmente para a verdade absoluta, ao cabo de 1000 arranques haveria um número razoável de acidentes; mas o facto é que, em cruzamentos de avenidas com várias faixas, os raros acidentes costumam dever-se ao incumprimento, e não ao desconhecimento, dos semáforos.
Se como os autores que Onésimo cita bem mostram, a certeza teórica, as sínteses globais, etc., são-nos praticamente impossíveis, é a teoria que resulta deste reconhecimento que acaba por nos legitimar uma outra certeza, ou uma certeza num outro conhecimento.
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