Para o que importa a este blogue, creio que nada que tenha acontecido em 2009 será mais importante do que - e muito pouco sê-lo-á tão importante quanto - as experiências de M. Powner, B. Gerland e J. Sutherland (v. http://www.nature.com/nature/journal/v459/n7244/full/nature08013.html ) que confirmam a velha hipótese de que o ARN precedeu o ADN!
Com efeito, no ensaio que este blogue desenvolve assinalei 3 grandes pedras no sapato reducionista (o sapato daqueles que procuram caminhar nas ciências mediante a redução dos objectos destas a respectivos elementos básicos e suas regras de associação, para conceber e intervir naqueles objectos em conformidade). 1ª pedra: de onde, e como, irrompeu o Universo? 2ª pedra: o que aconteceu para que alguns elementos moleculares se organizassem com as propriedades do ser vivo, que não se encontram naqueles anteriores? 3ª pedra: o que aconteceu para que alguns elementos celulares se organizassem com as propriedades da consciência, que não se encontram naqueles anteriores? Os hiatos entre estes níveis constituíam convites à alternativa conceptual emergentista ou auto-organizacional.
Particularmente no salto do nível físico-químico para o biológico - o do surgimento da vida - surgia um círculo vicioso: para a replicação celular do ADN (molécula portadora do código genético) são precisas proteínas, mas para a síntese destas últimas é necessária a orientação dada pelo ADN. Depois deste enigma inicial, a transmissão daquele código, consubstanciada pela referida replicação, faz-se mediante uma molécula auxiliar, o RNA (que copia o código). A experiência descrita no artigo acima linkado dá força porém à hipótese de Carl Woese (na década de 1960) de que o ARN é que terá sido primeiro, sucedendo-se-lhe o ADN. Quebrar-se-ia assim o círculo vicioso, pois o ARN comporta informação genética, permite sintetizar proteínas e auto-replica-se. Ou seja, é auto-suficiente. Depois, como os seus constituintes físico-químicos se encontravam no caldo molecular original, pode esperar-se que das interacções no seio deste último, sob acção da radiação solar ultravioleta, resultasse a dado momento aquela molécula original da vida.
Suponho que os bioquímicos dividem-se agora entre os que julgam que o ARN desempenhe todas as funções metabólicas, e os que julgam que deverá cooperar nelas com ácidos aminados... Aí está uma questão para a minha filha Madalena me ensinar se sempre enveredar por bioquímica!
Uma questão que entretanto parece constituir já não um hiato, mas uma estrada - que haverá que trilhar.
E, quanto mais contínua for, menos lugar haverá para o conceito de "emergência", ou mais se esfarelará a 2ª pedra no sapato reducionista.
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