segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Da escola semiótica aos manuais de bons (e maus!) costumes

A investigação sobre comunicação distingue-se hoje entre as chamadas "escola processual" e "escola semiótica": a 1ª assume a comunicação como a passagem de uma mensagem do emissor ao receptor, mediante um código, canal, etc. Decompondo estes elementos, pode assim pretender-se que o sentido de uma mensagem é independente do código usado para a exprimir, da interpretação dum dado receptor,... Por exemplo, um político (como Lenine) emite uma mensagem de belas palavras na sequência da qual são mortos milhões de pessoas, argumentarão porém os seus apaniguados que aquela beleza resta aquém deste morticínio. Já para a escola semiótica, como diz António Fidalgo (http://www.scribd.com/doc/2587154/Antonio-Fidalgo-UBI-A-semiotica-e-os-modelos-de-comunicacao), "o significado da mensagem não se encontra instituído na mensagem, (...) é algo que subsiste numa relação estrutural entre o produtor, a mensagem, o referente, o interlocutor e o contexto". Pois falta encontrar o olhar de Deus que faculte o sentido absoluto de quaisquer signos linguísticos, de tal forma que os sentidos acabam por se constituir nos comportamentos a que a comunicação dá azo - uma de duas: ou bem que o sentido da comunicação leninista é o Gulag, ou bem que, não lhe sendo imputável quaisquer comportamentos consequentes (nunca terá sido por escutarem as ordens de Lenine que os funcionários do Partido começaram a matar camponeses...), a comunicação do pai do comunismo simplesmente não tem qualquer sentido. (A não ser, claro, que 1º se renegue o ateísmo, e 2º se institua Lenine, já agora também Estaline e Mao, como os profetas de um Deus que lhes facultou o Seu olhar absoluto!).
Pela minha parte ainda não fui tocado por este espírito santo. Resta-me portanto, humildemente, a interpretação semiótica da comunicação, aproveitando a análise processual apenas nos quadros da anterior abordagem.
E é por isto que no meu perfil indiquei a Bíblia como um dos meus livros favoritos - não que eu seja religioso, mas desde logo porque será o maior manual de bons costumes que a história regista.
Num 2º passo, já derivado, porque foi da sua leitura e ensino que decorreu a prática da igualdade entre os seres humanos (por relação a um Criador comum), e do trabalho e tempo progressivo (da queda à ressurreição) que  têm mobilizado tantos avanços no desenvolvimento humano. É certo que os manuais de maus costumes que são os textos daqueles comunistas se inspiraram nesse sentido da comunicação bíblica para desencadearem o Gulag. Mas afastaram-se dessa comunicação, mormente do Novo Testamento, que proclama a liberdade de consciência de cada pessoa (como S. Paulo na estrada para Damasco), assumindo antes o determinismo historicista de Marx. A antropologia comunista contrapõe-se pois radicalmente à bíblica, de modo que a mancha do holocausto comunista não toca a Bíblia - outros comportamentos a mancham (cruzadas, Inquisição...), mas não o daquele morticínio.
O qual, sendo equiparável ao nazi, semioticamente coloca o sentido da comunicação comunista ao nível do Mein Kampf. Comunicações que aliás se revelam disparatadas num 1º passo prévio ainda à assunção de quaisquer valores em detrimento de outros (portanto prévio à discussão): o facto é que a comunicação nazi assumiu-se como lançando um Reich que duraria 1000 anos... durou 12, tal como a comunista se assumiu como um catalisador (o partido que Lenine acrescentou à teoria de Marx) de uma história irreversível... que reverteu em 1989/91. Ou seja, uma e outra geraram comportamentos que as inviabilizaram. Ao contrário da comunicação bíblica, que, uma vez potenciada pela comunicação filosófica grega, levou a pequena população desta península asiática que é a Europa a um poder nunca antes visto - um poder muitas vezes destrutivo, mas que não só se mantém como os seus comportamentos são cada vez mais copiados. A diferença entre esses manuais tem sido pois da noite para o dia.
Em suma, até que os leitores de Saramago (não digo o próprio escritor porque me parece que os ressentimentos e complexos deste homem lhe não deixam inteligência suficiente) erradiquem, argumentadamente (!), a teoria semiótica da linguagem, e sustentem a sua (deles) elevação ao olhar de Deus que os dispensa de qualquer relativização da comunicação aos comportamentos que se lhe sucedem, resta-nos felicitar o comité do prémio Nobel que destacou a obra deste escritor português pela sua imaginatividade... que de coisas reais ela não versa. É um entretenimento, dedique-se-lhe quem lhe acha graça, pela minha parte, como acho mais graça ao futebol, passo de imediato ao post seguinte:

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