Em contraponto às expectativas em À atenção, no "século chinês" , não devemos deixar de atender a outras como a de Wendy Dobson na sua recente obra Gravity Shift: How Asia's New Economic Powerhouses Will Shape the Twenty-first Century, Toronto: University of Toronto Press, 2009.
Segundo a recensão que me chegou, apesar de reconhecer que os PIB's chinês e indiano deverão alcançar o dos EUA entre 2020 e 2040, respectivamente, a autora nem por isso prevê uma substituição da liderança americana pela chinesa, mais tarde a par da indiana. Pois a aposta chinesa na evolução para o crescimento baseado na produtividade, e não no capital intensivo, implicará desregulamentações - desde a liberalização dos juros à actividade de pequenas e médias empresas não controláveis pelo poder central - muito difíceis de fazer dados os interesses instalados. Por seu lado, o calcanhar de Aquiles indiano será a alteração na legislação laboral - facilitando a contratação, e portanto o despedimento - de modo a permitir aproveitar, num desenvolvimento que (pelo menos em parte) deverá ser de capital e trabalho intensivo, a força de trabalho potencial de 900 milhões de pessoas para 2020, com 250 milhões entre os 15 e os 24 anos (compare-se com as previsões demográficas europeias!...). Além de que a Índia continua por fazer a modernização sócio-económica que desvie para os serviços e indústria a maioria dos 60% da população ainda ligada à agricultura - números dum país nos primórdios de uma revolução industrial, todavia muito avançado nas industrias de telecomunicações, espacial, etc.... imaginem-se as tensões.
Dobson prevê que, à conta desses desafios internos, ambos os países continuarão a constitui-se como contra-balanças do poder no G20, mais do que como super-potências, assumindo-se tão só como potências regionais.
Não sei avaliar até que ponto obstáculos como esses poderão efectivamente tolher o passo de chineses e indianos. Mas apontarei a tensão entre duas observações: uma (li-a não me lembro onde) é a de que a influência cultural tende a decorrer dum mesmo pólo que influencie economicamente - ainda que não estritamente do mesmo país, veja-se desde por exemplo a influência austríaca além da alemã, até à Grécia Helenística (já em decadência) no seio do Império Romano. A outra é a duma provável maior dificuldade chinesa na aceitação da diferença (v. post acima referido), o que não facilitará uma comunicação mais profunda com outras comunidades - embora isso também possa facilitar contactos estritamente económicos e comerciais, como se diz que são os dos chineses em África. Se se verifica esta dificuldade, de origem cultural, e também a 1ª observação, não será fácil aos chineses ascenderem a uma posição semelhante à dos ocidentais nos últimos 500 anos. A novidade deste século, depois do último meio milénio, é capaz de ser antes a multi-polaridade, e o exercício de influências diversificadas por parte de cada potência. A influência cultural, porventura mais do que nunca, será o trunfo ocidental.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
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