sábado, 14 de novembro de 2009

Mas... há um problema civilizacional?!

Sob esta etiqueta tenho colocado uma série de posts preocupados, senão pessimistas sobre o futuro próximo ou a médio prazo. Não podemos porém deixar de nos lembrarmos que outras expectativas serão possíveis - visto o futuro ser o que está em aberto. Tenho a impressão que é geralmente o caso dos promotores do "transhumanismo" - v. http://transhumanismo.blogs.sapo.pt/ . Por sinal já me referi aqui a uma obra sobre essa expectativa de um tempo em que o homem natural dominará tecnicamente esta sua natureza, e a transformará segundo um interesse que escapa a esta última (Crise económico-financeira, transhumanismo... e a ... ), e o juízo do autor será negro. Mas além do link para aquele blogue (no qual sei que Rui Barbosa acolhe bem qualquer participante), aponto aqui a recensão de outro livro recente que ilustra esse optimismo: Aldo Schiavone, Histoire et Destin, Paris: Belin, 2009.
O autor - por sinal um conhecido estudioso da evolução das civilizações - reconhece 2 grandes revoluções que facultaram o sucesso da espécie humana na Terra, e perspectiva uma 3ª. A 1ª (se bem entendi) terá sido a passagem do nomadismo recolector ao sedentarismo agrícola - em O Nó do Problema Ocidental - A dimensão das ciências (p. 49) refiro de passagem a datação de vestígios dessa época que sugerem a anterioridade de símbolos religiosos aos instrumentos daquele organização sócio-económica, pelo que tal revolução terá começado por ser cultural. A 2ª grande revolução foi a industrial. Uma e outra terão sido provocadas por uma inteligência (a que se desenvolveu com o homo sapiens sapiens) capaz de determinar um projecto, e desenvolver uma técnica para usar o mundo dito natural em ordem ao cumprimento daquele. Segundo o autor, aliás, "natureza" (como entidade transcendente ao homem, etc.) expressa apenas a resistência que os 1ºs homens encontravam no mundo externo, não podemos porém reconhecer-lhe hoje qualquer imutabilidade, ou essência eterna e assim sagrada que houvesse que respeitar, dada a historicidade que lhe descobrimos desde muito antes de aparecer o homo erectus.
E agora a mesma inteligência preparar-se-á para uma 3ª revolução: a da aplicação da genética, biónica, robótica, etc., ao ser humano, o qual se transformará assim em ordem à erradicação de doenças, envelhecimento e mortalidade (!)... Além disto tudo, talvez assim se adapte o ser "pós-humano" à escassez de água potável, de diversos nutrientes, etc. que as previstas alterações climáticas deverão acarretar - no ensaio acima referido tive o cuidado de mencionar autores como B. Lomborg, que sustentam que, mais fácil do que inverter essas alterações, será adaptarmos-nos a elas.
Intuitivamente, me parece difícil que, se estas alterações ocorrerem nas próximas 2 ou 3 décadas, tais alterações tecnológicas de toda uma espécie até aqui apenas natural ainda venham a tempo de resguardar a maioria dos indivíduos dessa (nova) espécie. Todavia a velocidade da expansão da transformação comunicacional desde os primeiros telemóveis e o começo da aplicação da internet à comunicação aberta (não apenas militar nos EUA) foi de tal ordem que deixo um ponto de interrogação sobre aquela intuição.
Mas como Schiavone bem apontará (convergindo aqui com o autor que referi naquele post de Julho), a questão não é apenas técnica. Antes disso, é esse o nosso projecto?

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