sábado, 28 de novembro de 2009

Sobre uma ocidentalização esquizofrénica

Continuando a pista do post anterior, parece-me interessante a reflexão de W. Reed Smith no seu post http://civilitasblog.blogspot.com/2009/11/schizophrenia-issue.html .
Reportando-se a Spengler e a Toynbee, nos primórdios da história comparada contemporânea, o autor distingue as perspectivas, respectivamente, de um aproveitamento da tecnologia ocidental pelos não ocidentais, mas usando-a em conformidade a princípios e valores que restarão não ocidentais, de uma ocidentalização que, ao ser técnico-económica, será simultaneamente cultural. Daí a referência a uma eventual esquizofrenia civilizacional: estará em curso um duplo desenvolvimento dessas outras civilizações, ocidentalizando-se numa dimensão mas não nas outras? Com os seus exemplos sobre a Rússia, a China, especialmente sobre a imigração,... Smith sugere bem como esta questão afectará crescentemente o nosso dia-a-dia, e portanto como lhe temos que responder politicamente - em democracia, mediante a participação de cada cidadão.
A essa questão já antiga acrescenta-se hoje este pormenor: têm os optimistas, defensores duma ocidentalização universal como pretenderam os Iluministas do séc. XVIII, sinais de que o Ocidente ainda tem a vitalidade, a atractividade, a capacidade de oferta... necessárias para integrar os imigrantes, etc.? Ou todos esses outros simplesmente já não encontrarão aqui nada que os mobilize a uma sua aculturação integral?

Penso que a metafísica analítica do séc. XX faculta aqui um desvio que poderá ser produtivo: enquanto temporais, os entes - aquilo que há, desde eu, você, os nossos 2 computadores, até se calhar o conceito de "homem", de "4", etc. - podem ser concebidos endurantista ou perdurantistamente. Pela 1ª concepção, o que há é o que dura inalterável ao longo do tempo. Pela 2ª, o que há é o processo de alterações. A 1ª estrutura a tese essencialista sobre as civilizações - cada uma destas caracteriza-se por um núcleo que permanece ao longa da história, sem se misturar com os de outras civilizações. Conduz à percepção do "choque entre civilizações". A 2ª concepção metafísica estrutura a tese construtivista sobre as civilizações - cada uma destas caracteriza-se por um processo evolutivo, não determinado por qualquer núcleo.
Se o recurso à formulação metafísica facultar um maior esclarecimento, ou até desenvolvimento, de uma dessas teses históricas em detrimento da outra, esse desvio teórico já valerá a pena. Mais, se se apresentar algum critério de decisão em questões metafísicas, então tal desvio poderá ser mesmo decisivo.

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