sábado, 3 de outubro de 2009

Do sentido e horizonte da "ciência" (2)

Concluindo a entrevista aqui referida no post anterior, Jean-Jacques Kupiec diz não acreditar na possibilidade duma "expérience miracle" que por si só garanta a convicção. Pois "une théorie n'est pas la vérité absolue. C'est une manière d'assembler entre eux des faits expérimentaux. (...) Deux théories ouvrent des fenêtres différents, qui initient de nouveaux programmes de recherches différents" (op.cit.: 53). (Não há dúvida: a certeza é coisa da poesia, do discurso político... não da ciência).
Em Do sentido e horizonte da "ciência" e no post que lhe foi anterior, então a partir da cosmologia e física, também  ficou esboçada esta ideia de que as teorias se não dispõem como que paralelamente perante os factos únicos, cuja adequação seleccionaria as 1ªs. Antes estes últimos constituem-se já no seio de redes perceptivas e conceptuais, nas quais à partida se escolhe o que isolar como 1 "facto" - ex. a variabilidade celular, desprezada pelos deterministas, empolada pelos probabilistas. Cada rede terá os seus nós fortes... e os fracos (daí não bastar 1 desmentido ou 1 confirmação empírica de uma única previsão para se manter ou recusar toda uma rede).
Na epistemologia contemporânea esta posição geral tem sido designada "coerentismo" - uma teoria é válida por ser coerente com aquelas com que se correlaciona (e não por corresponder a quaisquer factos para além dessa rede). Resta saber porque é que a rede proposta por exemplo por um esquizofrénico inteligente e culto, a despeito dessa rede poder ser lógica e bastante abrangente, persiste disfuncional - e precisamente por isso o esquizofrénico é "louco" (= incapaz de cuidar de si) e não apenas "excêntrico" ou "diferente da maioria". Parece que haverá mais qualquer coisinha para além das nossas crenças e da coerência entre estas...

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