domingo, 4 de outubro de 2009

O que é que a UE pode fazer por mim? = UE caminhando à beira da divergência

Nem foi preciso chegar à 3ª para ser de vez, bastou a 2ª... mas se fosse preciso naturalmente lá se iria até que a resposta fosse a que os organizadores do jogo europeu tinham decidido à partida que seria a correcta (por esta altura o aluno irlandês já terá sido remetido para a turma da última letra na escola europeia!). Mas aprecie-se a arte, ou a sorte, daqueles organizadores: a repetição da pergunta foi feita exactamente quando a integração europeia, e portanto o Tratado de Lisboa, se contrapunha (nas promessas!...) ao papão do desemprego. Resta só identificar o papão polaco e checo, e fazer a mesma pergunta sempre da forma mais inocente.
O que esta inocência estabelece, no entanto, é uma "União" (Europeia) nos antípodas da "união" dos Estados Americanos (EUA), no que à participação e identificação colectiva das pessoas diz respeito. É que nesta última, o recente discurso do Presidente aos estudantes voltou a lembrá-lo (v. próximo post), o que se pergunta com Kennedy é "O que é que podes fazer pelo teu país?". A consequência mais provável, me parece, é que enquanto a coesão dos EUA resistirá a escolhas em situações difíceis - aquelas nas quais há preços a pagar - já a UE se constitui numa "união" apenas para tempos de vacas gordas, assim que a situação exigir escolhas que sacrifiquem alguns estes deixarão de ter razão para nela se manterem.
Até porque o Tratado de Lisboa, no Art. 9º-C (in: http://www.eurocid.pt/pls/wsd/wsdwcot0.detalhe_area?p_sub=52&p_cot_id=2936&p_est_id=7120), prevê que a partir de 2014 a definição das políticas e a coordenação, mais as funções legislativa e orçamental, serão tomadas (eminentemente pelo Conselho de Ministros, onde os Estados como tais se representam) pela dupla maioria de 55% dos Estados, e 65% da população da UE - critérios político e demográfico a que por certo se juntará o critério económico nas negociações de bastidores entre os países ricos e aqueles outros que, com os anteriores, possam perfazer aquelas maiorias. Os restantes ficarão de fora. Ou seja, só faltam as ratificações checa e polaca para termos umas regras de jogo adequadas à pergunta americana... a implementar porém por jogadores que respondem à pergunta inversa.
Na nota 6 de O Nó do Problema Ocidental - A dimensão das ciências (pp. 99, 100), a propósito da aparente solidez dessas 2 Uniões que corporizam politicamente a civilização ocidental, e da opção implementada nesse Artigo (e outros) do Tratado de Lisboa, escrevi:
"Na ressaca do projecto nazi, tendo ainda presente o de Napoleão Bonaparte ou até o dos herdeiros de Carlos V, os fundadores das Comunidades Europeias (...) optaram pela equiparação formal dos Estados intervenientes. E assim foi possível fazer funcionar (...) a única união europeia desde o Sacro-Império. Até que, considerando hoje que as regras do jogo europeu não seriam eficazes com um maior número de participantes, os [governantes europeus e burocratas da UE] – estes já não da geração que viveu a II Guerra Mundial… – obrigaram-se a escolher entre: A) não alargar a UE aos países do antigo bloco soviético, limitando-se a eventuais parcerias privilegiadas; B) alargá-la, mas reduzindo a União a um espaço comercial comum, e ao pouco mais que permanentes negociações permitissem; C) alargar, mas alterando as regras do jogo. De imediato enjeitaram a possibilidade A. Para com o Tratado de Lisboa optarem enfim pela C".
O poder e benefícios - pelo menos a curto prazo... e a médio podem viver dos pecúlios entretanto reunidos - dos políticos profissionais e burocratas europeus será assim por certo maior do que nas opções A ou B. A questão é a da sustentabilidade desta inversão da estratégia seguida desde a CEE até agora. Por exemplo, quando for preciso assentar numa (em+uma!) resposta da UE à sua perda de competitividade internacional na iminente saída da presente crise financeiro-económica, à imigração que responda à curva demográfica negativa europeia, etc. - cf. 2ª nota de http://onodoproblemaocidental24x7.blogspot.com/2009/08/proxima-decada-portuguesa.htmlA previsão de Michael Vlahos, v. http://onodoproblemaocidental24x7.blogspot.com/2009/09/os-eua-e-o-mundo-sec-xxi.html, parece assim ameaçar o Ocidente eminentemente pelo lado europeu...

Sem comentários:

Enviar um comentário