quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Sobre a reacção às diferenças culturais

Charles Taylor, um dos mais proeminentes filósofos vivos, deu uma entrevista à Philosophy Now (Nº 74, July/August 2009, in: http://www.philosophynow.org/issue74/74taylor.htm) na qual sugeriu - sem argumentar, que uma entrevista não dá para isso - uma pista importante para as nossas sociedades crescentemente cosmopolitas: com efeito a curva demográfica negativa na Europa e população norte-americana tradicional, compensada pela imigração de diversas proveniências, mais os efeitos da globalização cultural e económica, coloca-nos a conviver com a diferença nos nossos bairros, empregos, lojas... E crescentemente não será uma convivência no seio das nossas velhas regras de convivência, como Taylor bem diz, estas regras não são neutrais, têm implicações culturais, logo o maior peso daquelas diferenças forçará alguma alteração no modo de vida que desenvolvemos da nossa tradição, e com o qual recebemos as primeiras gerações de imigrantes. Por exemplo: o nosso respeito pela opinião de um indivíduo chinês permite que este defenda, connosco, a imigração, mas contra nós, que o que importa não sejam os indivíduos mas sim os grupos, de forma que, se ao fim duns anos de imigração chinesa o grupo chinês ultrapassar o nativo, cada um destes terá que se calar na terra que foi dos seus antepassados porque agora aí o mais importante passará a ser o grupo dominante...
Voltemos ao presente - Em vista a manter a coesão temos hoje 2 possibilidades: ou procurar denominadores comuns que dissolvam ao máximo as diferenças, ou reconhecermos frontalmente estas últimas e implementarmos um discurso racional sobre elas que evite excessos emocionais, e que vá facultando alguma forma de convivência.
A razão pela qual o filósofo canadiano prefere esta 2ª é que não considera possível uma solução final, uma verdade acabada que se constituísse naquele denominador. Neste suposto, será mais sensato reconhecer e aceitar viver as tensões do cosmopolitismo, procurando uma convivência não destrutiva e até mutuamente estimulante quando possível, do que menosprezar essas tensões... o que não as dissolve, apenas as deixa livres da reflexão racional que melhor evita excessos emocionais destrutivos.
As alternativas são: formular um tal denominador cuja aplicação político-social prove não ser destrutiva (como foi o comunismo, que em nome da Humanidade fez matar milhões de mulheres e homens!); ou tentar enviar de volta os imigrantes, empobrecendo nós numa Europa progressivamente envelhecida - no caso dos EUA, como boa parte da compensação demográfica será feita por latinos que já lá vivem, só se lhes quiserem dar o mesmo destino que deram antes aos índios...

Sem comentários:

Enviar um comentário