domingo, 25 de outubro de 2009

Para a conferência de Copenhaga

Daqui a menos de 2 meses será negociado em Copenhaga um protocolo que substituirá o de Quioto. (Para assentarmos a credibilidade que esse outro compromisso terá valerá a pena começarmos por avaliar o grau de cumprimento do que agora termina...)
Jean Remy Davée Guimarães dá conta em http://cienciahoje.uol.com.br/155082 da preparação das posições brasileiras para essa conferência. Penso que são particularmente importantes não apenas pela relevância do Brasil (veja-se a importância ecológica da Amazónia) mas também pelo seu crescente peso simbólico: entre os BRIC (além da Rússia, Índia e China) representa as grandes economias e Estados emergentes no teatro internacional, acrescido ainda (o Brasil) duma extensão ao continente sul-americano que de algum modo acaba por representar. Talvez aquele cronista tenha optado restringir-se às questões estritamente da poluição, e uma outra questão de geopolítica e economia internacional esteja igualmente sendo preparada. Mas se não está, se aquela crónica abarca toda a discussão em curso, então temo que esteja em falta um factor que creio que a médio prazo será determinante:
As democracias espalharam-se, nomeadamente na América do Sul; mesmo nos regimes autoritários asiáticos as populações fazem-se escutar de alguma forma além das instituições democráticas. Sendo assim, mesmo que os Governos destes Estados aceitassem - por exemplo em resultado duma sua corrupção - impor aos respectivos povos um adiamento da sua convergência económica com os Estados desenvolvidos em nome do equilíbrio ecológico mundial, será muito difícil que esses povos o aceitem. A entrada dos BRIC, e outras comunidades como o Islão, no teatro das decisões internacionais - desde a II Guerra monopólio da Europa, EUA, e, em menor medida, da China - arrastará a necessidade de europeus e americanos pagarem também algum preço. Mas ninguém os paga voluntariamente. Isto só acontece quando a posição dos credores é incontornável.
Em Copenhaga, indirectamente, discutir-se-à pois a nova ordem global do Mundo. E além de argumentos específicos sobre emissões de gases poluentes,... os representantes do Brasil deverão estar preparados para discutir as condições de possibilidade de acordos comerciais, etc., pelos quais os países desenvolvidos paguem também o preço da redução de exploração directa dos recursos terrestres nos países em desenvolvimento. De outra forma custa-me a crer que quaisquer acordos ecológicos sejam implementáveis.

P.S. - Só a quem continua a julgar que não vive na Terra, isto é, que os desequilíbrios ecológicos não chegarão ao seu quintal, é que parecerá estranho que um europeu espere bem que os delegados brasileiros a Copenhaga, se possível em cooperação com os argentinos, chilenos... intervenham em ordem a uma tal reorganização do Mundo.

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